Crise Diplomática no Qatar

Spread the love

O Qatar vive um momento tenso em sua história. O pequeno país localizado na península árabe aparentemente apresentava uma estável política interna e externa, assim como na economia. Com um futuro visto como promissor e dinheiro vindo da petroquímica, o Qatar teria fundos o suficiente para investir na modernização de sua capital Doha e na promoção do país mundo afora. Só que um acontecimento em junho de 2017 afetou negativamente o país.

Seus vizinhos árabes: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito e outros países do golfo pérsico, por conta de divergências na região, cortaram todas as relações diplomáticas com o Qatar, acusando o país de apoiar o terrorismo, interferir em assuntos internos, estreitar relações com o Irã e ser tolerante com grupos islâmicos, como a Irmandade Muçulmana.

crise diplomática no qatar

As nações ordenaram a retirada de seus embaixadores e cidadãos das terras do Qatar. O desentendimento entre as nações fez ainda com que a Arábia Saudita barrasse seu espaço aéreo e cortasse a exportação de alimentos. A crise diplomática entre Qatar e seus vizinhos instalou o caos no país. Com medo da escassez de alimentos, os supermercados da capital Doha apresentaram longas filas. O país depende das importações de alimentos, já que suas terras e seu clima árido não são viáveis para o plantio de alimentos.

O que é crise diplomática e qual a repercussão da crise para o mercado?

Crise diplomática se caracteriza por “uma sucessão de interações entre os governos de dois ou mais Estados soberanos, em conflito grave e curto de guerra real, mas que envolve a percepção de uma perigosamente elevada probabilidade de guerra”, ou seja, a decisão da Arábia Saudita e dos demais países aliados de cortar as relações diplomáticas com o Qatar representa uma grave situação no Oriente Médio.

A ONU, inclusive, se mostrou estar preocupada com a crise diplomática no Qatar e diz que espera que os países envolvidos resolvam a situação através do diálogo.

Por mais que o rompimento tenha acontecido de forma repentina e inesperada, os desentendimentos entre a Arábia Saudita e o Qatar não são novos e umas séries de acontecimentos ajudaram a despertar as razões da crise diplomática.

Em 2014, a divergência estava no Egito, em que o governo do Qatar havia apoiado a Irmandade Muçulmana, enquanto a Arábia Saudita e o governo de Abu Dhabi financiaram a derrubada do grupo. Devido a esse impasse, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, na época, retiraram seus embaixadores de Qatar.

A principal consequência e repercussão no mercado com a crise diplomática no Oriente Médio se dá pelo que o Qatar é conhecido: o petróleo. Atualmente o Qatar é o maior exportador mundial de gás natural liquefeito. Antes da descoberta pela Shell de grandes reservas de gás natural nas bacias do Golfo Pérsico, o Qatar era um país pobre e era a Arábia Saudita quem exportava petróleo e determinava a política local.

O Qatar tem hoje a maior renda per capita do mundo ($ 129,700 por ano). Em pouco tempo, o deixou de ser o irmão pobre do Oriente Médio, aperfeiçoou a tecnologia de condensação do gás natural e passou não só a exportar petróleo mas também gás natural, elevando-se a líder neste tipo de energia no mundo. Disputas na região deixam o mercado de petróleo volátil e limitam os investidores estrangeiros.

Além da riqueza vinda da exploração do petróleo e gás natural, o Qatar abriga o Centro de Operações Aéreas dos Estados Unidos na região desde 2003, quando a Arábia Saudita os expulsou de suas terras. Atualmente, hospedam 10 mil soldados americanos e é a sede de frente do Centcom, comando central dos militares americanos no Oriente Médio. O Qatar também hospeda o canal de televisão Al-Jazira e vai realizar a Copa do Mundo de 2022.

As principais causas da crise diplomática entre Qatar e seus vizinhos

Dentre as disputas de poderes e influencias na região, a que mais desperta fúria é a relação com o Irã. Segundo seus vizinhos, o Qatar tem demonstrado ser tolerante demais com o Irã e acusado de apoiar grupos terroristas como a Irmandade Muçulmana, o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.

O clima esquentou depois que foi divulgado o suposto sequestro de integrantes da família real do Qatar, por militantes xiitas, em 2015 durante uma viagem de caça de gaviões no Iraque. Eles teriam ficado 16 meses em cativeiro e somente liberados após o Qatar pagar 1 bilhão de dólares aos sequestradores. A Arábia Saudita e os demais vizinhos estranharam esse fato e se questionaram se o sequestro não teria sido uma fachada para financiar grupos extremistas. O Qatar nega.

O estopim para a crise diplomática, no entanto foi um relatório estatal da agência de notícias qatari, que citou o governante do país, o emir Tamim bin Hamad Al Thani, no qual criticava o crescente sentimento anti-iraniano. O governo imediatamente eliminou os comentários e culpou hackers de divulgamento de notícias falsas.

A situação se agravou depois das declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante visita à Arábia Saudita e do rei saudita, Salman bin Abdulaziz, que citaram o Irã como o principal apoiador e patrocinador do terrorismo. Com essa declaração, a Arábia Saudita e seus vizinhos dobraram as críticas e acusações ao Qatar, exigindo que o país deixasse de ser conivente ao Irã e parasse de financiar grupos extremistas.

A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, apoiados pelo governo Trump, estão engajados a enfraquecer toda e qualquer influência iraniana no Oriente Médio e pressionam o Qatar para acabar com seu suporte aos movimentos islâmicos, como a Irmandade Muçulmana e o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

Essa tensão na região é em parte um conflito entre xiitas e sunitas. O Irã é um país de maioria xiita, diferentemente do seu principal rival, a Arábia Saudita, de maioria sunita e de lado oposto ao Irã em conflitos do Iraque e Síria.

Consequências da crise diplomática no Qatar

Em junho de 2017, a Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Bahrein cortaram relações com o Qatar, acusando o país de apoio ao terrorismo. Embora o Qatar negue o financiamento de grupos extremistas, se diz estar aberto para negociações e critica a medida dos países vizinhos, alegando que essa medida inviabiliza a soberania do Qatar diante de outras nações. De fato, o bloqueio da Arábia Saudita e demais países teve consequências na economia do país.

Os governos de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos restringiram o acesso de embarcações qataris ou operadas por companhias qataris na sua zona portuária.

Além da comida, o fechamento da via pode atrasar as construções e obras civis no Qatar, além de aumentar os preços dos principais matérias como concreto e aço.

A Arábia Saudita ainda restringiu seu espaço aéreo da principal companhia aérea catari, a Qatar Airways. Com isso,  a companhia terá que alterar os caminhos e adicionar tempo aos voos. Como resposta, a Qatar Airways cancelou seus serviços para a Arábia Saudita. Já outras companhias aéreas como a Etihad Airways e a Emirates suspenderam todos os voos saindo e com destino a Doha, capital do Qatar.

Os cidadãos da Arábia Saudita foram proibidos de viajar, morar ou atravessar o Qatar e tem 14 dias para sair do país, mesmo tempo que os cidadãos de Qatar têm para sair dos países árabes. A crise tem efeitos nos negócios e investimentos de estrangeiros. O time de futebol saudita Al-Ahli, por exemplo, cancelou o patrocínio da Qatar Airways.

Em resposta, as medidas tomadas pela Arábia Saudita e demais países ao Qatar, o governo do Irã ofereceu apoio enviado suprimentos ao país. Turquia, Omã, Marrocos também enviaram alimentos para o Qatar e melhoraram a situação nos supermercados. O Irã também permitiu que o Qatar fizesse uso de seu espaço aéreo para fins comerciais. Contudo, a crise continua.

Arábia Saudita, Egito, Bahrein e Emirados Árabes Unidos enviaram ao Qatar uma lista de exigências para iniciar um diálogo. Nela, foi exigido que o Qatar cortasse qualquer contato com a Irmandade Muçulmana e com outros grupos extremistas como o xiita Hezbollah, a Al-Qaida e o Estado Islâmico, exigiram o encerramento da televisão Al-Jazira e de uma base militar da Turquia no Qatar.