Cultura de Doação

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A cultura de doação é o hábito de fazer doação para entidades e diz muito sobre a maturidade e consciência coletiva de uma sociedade. Um país com uma elevada cultura de doação nos revela que a população tem o entendimento de que eles também são responsáveis pela transformação da sociedade e ajudam para que isso aconteça.

O Índice de Solidariedade Mundial (World Giving Index) é a principal fonte para medir e entender a cultura de doação de cada país. Através de pesquisas e entrevistas, o World Giving Index mede o nível de solidariedade e engajamento social da população dos países pesquisados. O índice foca em três quesitos principais: ajudar um estranho, doar dinheiro para uma ONG e se voluntariar para uma causa social.

cultura de doação

Segundo pesquisa do World Giving Index, Myanmar, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Siri Lanka, Canadá, Indonésia, Reino Unido, Irlanda e Emirados Árabes ocupam as 10 primeiras categorias gerais dos países mais solidários do mundo, enquanto o Brasil ocupa somente a 68º posição.

Cultura de doação no Brasil

A cultura de doação no Brasil nos leva a duas linhas de raciocínio contraditórias.  O povo brasileiro é conhecido por ser acolhedor, hospitaleiro e solidário. De fato, temos um potencial enorme para a solidariedade, porém no ranking do Índice de Solidariedade Mundial, o Brasil, em termos proporcionais, posiciona-se apenas na 60ª posição no quesito ajudar um estranho, 59ª posição para doação em dinheiro para uma ONG e 79ª posição no ranking de voluntariado.

Comparar a cultura de doação de um país com seu PIB é equivocado. No Brasil, essa cultura ainda é atingida por situações políticas, econômicas e sociais, mas países mais pobres, com menos capacidade de investimento e menor PIB que o Brasil, ocupam posições mais elevadas no World Giving Index, como é o caso de Myanmar, país considerado o mais solidário.

Segundo estudos, a maioria dos brasileiros gostaria de se engajar mais em causas sociais, mas as transições políticas, especulações, falta de solidez na economia, falta de dinheiro extra para doar e a falta de tempo livre para ser voluntário ainda são fatores que desencorajam os brasileiros na cultura de doação.

Para entender e saber como evoluir a cultura de doação no Brasil, a Mobiliza Consultoria realizou um estudo para saber quais os fatores que devem ser trabalhados para ampliar e fortalecer a cultura de doação no Brasil são eles: doadores, infraestrutura, OSCs, cultura de doação e ambiente regulatório. Algumas ideias para arrecadar dinheiro para ONGs foram propostas como: aumentar o conhecimento da população sobre o setor, fortalecer a representação das ONGs e ampliar sua capacidade em comunicação e transparência, simplificação e ampliação dos benefícios fiscais para doação e cultura de doação.

Um conjunto de fatores ainda são necessários para encorajar as pessoas a doar. Doações para ONGs ainda são um fator a ser trabalhado, incentivos fiscais para doações fazendo com que possam ser dedutíveis de impostos pode ser uma maneira de aumentar a captação de recursos para muitas organizações, além de mudanças na legislação que facilitem o recebimento de doações e educação sobre solidariedade são formas de evoluir a cultura de doação no Brasil.

Iniciativas para evoluir a cultura de doação

Algumas entidades e ativistas do setor social já estão se organizando para ampliar a cultura de doação no Brasil e no Mundo, é o caso do Instituto Doar que, em conjunto com parceiros, realiza ações e iniciativas para espalhar a cultura de doação, fazendo com que mais e mais pessoas doem para criar um mundo melhor. Para isso, é importante que a sociedade entenda que juntos podem contribuir para essa melhoria.

Com o intuito de ampliar a cultura da doação, iniciativas como o Dia de Doar foram criadas. O Dia de Doar começou em 2013, em uma feira de ONGs em São Paulo, como uma maneira de movimentar e buscar mais doadores para aquelas e outras organizações. Foi criado também o Selo Doar, que é dado para ONGs como forma de comprovar seu Padrão de Gestão e Transparência.

A ideia de criar o Dia de Doar veio da organização 92Y de Nova Iorque que, em 2012, criou o Giving Tuesday, que significa “terça-feira da doação” e se espalhou pelo mundo. Lá, esse dia vem na sequencia de datas comerciais famosas como a BlackFriday e CyberMonday.

Atualmente, o Dia de Doar é organizado pelo Movimento por uma Cultura de Doação, onde várias organizações e indivíduos se juntaram para promover a cultura de doação no país e no mundo. São confeccionados diversos materiais, artes, vídeos, cartazes para mobilizar e estimular os indivíduos e empresas a doarem, a fim de criar um país mais generoso e solidário.

Em 2017, o Dia de doar será realizado em 29 de novembro, uma terça-feira, quando diversas organizações se prepararão para receber doações. O dia é tornado de público através do uso da hashtag #diadedoar nas mídias sociais. O uso de novas tecnologias de comunicação é uma ferramenta essencial para incrementar a doação e democratizar o acesso de pequenas e médias organizações.

O Dia de Doar é só um dia para se incentivar e lembrar, mas todo dia é dia de doar. A cada ano, mais pessoas e organizações se juntam a esse movimento. Em 2016, foram mais de 1.300 parceiros, a hashtag #diadedoar teve 35.483 interações no Facebook, alcançando um público potencial de mais de 7 milhões de pessoas. No Instagram, foram 24.967 interações, e 2 milhões de alcance potencial. Ainda em 2016, pela primeira vez, diversas cidades se mobilizaram para realizar campanhas do #diadedoar, como Sorocaba (SP), Petrópolis (RJ), Lorena (SP), e Esteio (RS), por exemplo, isso prova o quão solidário o brasileiro tem potencial para ser e como simples iniciativas podem fazer com que a sociedade se conscientize e evolua na cultura de doação.

Outras iniciativas com o intuito de evoluir a cultura de doação estão sendo criados. A Steet Store, por exemplo, é uma iniciativa desenvolvida em parceria com a agencia de publicidade M&C Saatchi, em que são feitas doações para moradores de rua como se fosse uma loja.

Além disso, o Instituto Doar, em parceria com a Revista Época e a Fundação Roberto Marinho, divulgou uma lista anual de melhores ONGs brasileiras, que serve de guia para os doadores decidirem qual ou quais organizações irão ajudar. A ideia da lista é evitar frases como “Não sei pra quem doar” como desculpa para não contribuir.

A revista Época divulga anualmente a lista das 100 melhores ONGs baseada na eficiência, qualidade de gestão, transparência e boa governança, diminuindo assim a falta de confiança que algumas pessoas apresentam como motivo para não doar. Pensando em ampliar a confiança, foi criado também o CRP, Certificação Profissional para Captadores que, em parceria com a ABCR, Associação Brasileira de Captadores de Recursos, tem por objetivo desenvolver e melhorar o desempenho dos profissionais brasileiros de captação de recursos.

A própria ABCR passa por um estágio de profissionalização. Com mais de 15 anos atuando em bases voluntárias, mudou seu modelo de governança e passou a atuar de maneira mais estratégica, fortalecendo a organização e, com isso, esperando ampliar a atividade de doação e mobilização de recursos no Brasil.

Outro exemplo de empreendedorismo social e desenvolvimento da cultura da doação é a Risu, uma plataforma que conecta pessoas, ONG’s e lojas online. São mais de 300 lojas cadastradas que disponibilizam um cupom de desconto e ofertas para quem optar efetuar a compra através da plataforma Risu. Parte do valor pago pelo produto vira doação para uma ONG à escolha do consumidor. O cliente não paga nada a mais por isso e ainda ajuda uma ONG.

Com apoio do GIFE, Grupo de Institutos Fundações e Empresas, o Movimento Arredondar é outra ação que busca fortalecer as ações sócias e a cultura de doação no Brasil. Nessa iniciativa, as lojas parceiras do movimento convidam seus clientes na hora de finalizar as compras a arredondar os centavos do valor total e fazerem uma doação que vai para as 21 organizações sociais participantes do projeto.