Filantropia

Spread the love

Quando pensamos em Filantropia, podemos lembrar de Bill Gates ou da Madre Teresa de Calcutá. Podemos lembrar da Cruz Vermelha ou dos Médicos sem Fronteiras. Apenas estas lembranças já nos dão uma boa ideia do que a palavra significa. Mas o conceito de filantropia é muito mais abrangente do que estes exemplos.

o que é filantropia

Hoje, associamos a filantropia à caridade cristã, mas a origem do termo independe de qualquer religião.

Do grego antigo, “fil” vem de “philos” (philia) que significa amizade (por filiação ou afinidade). Em suma, significa o amor desapegado, que não espera algo em troca. Exatamente o tipo de amor que pressupõe uma amizade, mas, neste caso, adicionamos “antropia”, do grego “anthropos”. A tradução literal seria homem, mas o termo faz referência à humanidade como um todo.

Portanto, filantropia é um amor desapegado à humanidade. Como consequência, o ser humano que se considera filantropo ou uma entidade que pretende ser filantrópica, atua cotidianamente no sentido de ajudar outros seres humanos, procurando melhorar suas condições de vida.

Por este motivo, a confusão com a caridade cristã é bastante comum. Mas, como dissemos, não é necessário ser religioso para estar imbuído de um desejo filantrópico. Basta ser humano e praticar algum tipo de ajuda a outros seres humanos. Isso porque há várias formas de se praticar a filantropia e, também, diversos tipos de necessidades humanas que podem ser atendidas pela prática.

O que é filantropia: formas de organização

Um princípio básico da filantropia é o fato de não esperar nada em troca, significa que todas as ações filantrópicas são sem fins lucrativos. Seja aquela feita por indivíduos, seja por organizações. Para explicar este ponto, vamos retomar as citações que fizemos no início.

1. Bill Gates e a Microsoft

Caso não saiba, Bill Gates é um dos donos da Microsoft, a empresa que criou o Windows, o Office e vários outros softwares e serviços. A empresa é tão grande, está em tantos países, que em qualquer lista de pessoas mais ricas do mundo, Bill Gates está sempre entre os três primeiros. Normalmente, é o primeiro. Sua fortuna pessoal é estimada em cerca de 80 bilhões de dólares.

Considerando que nenhum ser humano precisa de tanto dinheiro para viver bem, é compreensível que pense em distribuir pelo menos uma parte do montante, tentando ajudar outras pessoas. Neste quesito, Gates tem sido bastante radical. Em entrevistas, ele e sua esposa, costumam dizer que começaram a pensar no assunto quando foram à África fazer uma doação de computadores.

Reparem, computadores doados para populações carentes, neste caso, são uma forma de filantropia empresarial. Basicamente porque, naquele estágio, Gates atuava como uma espécie de embaixador da Microsoft, tentando promover a inclusão digital. No entanto, o empresário afirma ter percebido que as pessoas tinham outras necessidades, muito mais urgentes que a falta de computadores.

O resultado foi a criação de uma fundação, que tentaria ajudar a resolver alguns destes problemas. Estima-se que Gates tenha doado grande parte de sua fortuna para esta fundação, cujos objetivos parecem ser o desenvolvimento de uma vacina contra a AIDS, além de estimular o avanço da ciência e a filantropia de forma geral.

Gates representa a figura do bilionário filantropo. Se o dinheiro está sendo bem empregado ou não, já é outra discussão.

2. Madre Teresa e a caridade cristã

A ideia de ajudar ao próximo está entranhada na religião cristã. Ainda que a maioria dos cristãos não faça nada para ajudar ao próximo, aqueles que fazem são muitos. Neste caso, a filantropia tem menos a ver com dinheiro e mais com a disposição de doar a si mesmo.

Portanto, a caridade cristã pretende ser um esforço individual e coletivo pelo aumento da solidariedade nas relações humanas. Pelo sentimento de que todo ser humano, mas, principalmente os cristãos, tem na filantropia e na responsabilidade social uma forma de exercer sua piedade.

De forma geral, dedicar o próprio tempo, algumas vezes a vida inteira, como é o caso de Madre Teresa, também é uma forma de filantropia. Certamente, uma das formas mais nobres, que nos remete diretamente à ideia primordial da filantropia, que em momento algum dizia ser necessário ou desejável que a ajuda fosse feita em dinheiro.

Madre Teresa representa a figura do idealista apaixonado que leva suas ações às últimas consequências. Mas, assim como o caso anterior, suas ações já sofreram inúmeras críticas, principalmente pelas péssimas condições de higiene e acomodação dos doentes que procurava ajudar.

Também cabe dizer que o cristianismo não é a única religião que propõe a ajuda ao próximo, ou que mantém entidades voltadas para este fim (as Santas Casas, por exemplo), mas, é a religião predominante no Brasil, por isso o destaque.

3. Cruz Vermelha e Médicos sem Fronteiras

A Cruz Vermelha é uma organização composta por milhares de voluntários de todo o mundo. Sua atuação é bastante específica porque foi fundada nos campos de batalha da Europa do século XIX.

Em outras palavras, seus criadores perceberam que, nas situações de conflito armado, nem sempre havia quem pudesse auxiliar os feridos e os prisioneiros de guerra. Aos poucos, sua atuação cresceu e passou a abranger ajuda humanitária em situações de calamidade, seja em guerras, seja em catástrofes naturais.

Os Médicos sem Fronteira também atuam em regiões de conflito e catástrofes naturais mas, como é mais recente – da década de 1970 – mantém alguns programas permanentes de assistência médica em regiões de extrema pobreza, independentemente de conflitos ou ocorrências naturais.

Ambas as entidades representam a relação entre filantropia e organizações sociais independentes, isto é, que não têm um dono, nem são geridas por governos. São as famosas ONG’s (Organizações não Governamentais), mas, é importante ressaltar que nem todas as ONG’s têm caráter filantrópico.

A PETA, WWF e a mais conhecida desta área de atuação, o Greenpeace, são ONG’s que atuam em favor da vida selvagem e da preservação da natureza, portanto, não se enquadram no principal requisito da filantropia, a assistência direta ao ser humano em necessidade.

Filantropia no Brasil

Em países considerados subdesenvolvidos, como o Brasil, a lista de necessidades básicas não atendidas pelo governo é bastante grande. Em parte, as muitas ONG’s que existem atualmente surgiram para tentar mitigar uma ou mais destas necessidades. Além da longa tradição da Igreja Católica de manter entidades beneficentes no país.

Em conjunto, estas organizações acabam cumprindo muitas das funções que constitucionalmente seriam do Estado brasileiro. As Santas Casas são o exemplo mais claro disto, mas há inúmeras outras organizações ligadas à Igreja Católica ou não.

De certa forma, em países pobres, as necessidades são mais gritantes do que em países desenvolvidos. Afinal, temos inúmeros campos onde as organizações não governamentais podem atuar: combater a pobreza; a fome; o analfabetismo; a falta de água; o trabalho escravo; a dependência química; auxiliar moradores de rua; crianças abandonadas; vítimas de crimes violentos; lutar pelos direitos humanos. A lista é infindável.

No entanto, quando traduzimos a filantropia em números, podemos perder a dimensão da sua eficácia. Isso porque não é a quantidade de dinheiro ou de pessoas que realmente importa, mas a qualidade e o resultado das ações empregadas.

Se compararmos o Brasil com os Estados Unidos, por exemplo, veremos que há uma tradição muito bem estabelecida na cultura americana, de que o empreendedor de sucesso tem a responsabilidade social de retribuir para a sociedade as oportunidades que esta lhe deu.

Bill Gates é apenas o exemplo mais fácil entre os ricos americanos que se dedicam à filantropia. Poderíamos citar vários outros bilionários e milionários, sem contar atores, atrizes e outros tipos de artistas, atletas e profissionais diversos, sendo famosos ou não.

No Brasil, esta cultura parece estar se estabelecendo aos poucos. Não é raro ouvir sobre um atleta brasileiro que mantém, ou ajuda a manter, algum tipo de programa social. O mesmo acontecendo com artistas e outros tipos de atletas.

Neste sentido, a quantidade de organizações é tão grande no país e também no resto do mundo, que nos referimos a esta área da atividade humana como o terceiro setor.

Terceiro setor: um novo modelo social

Apenas como um rápido e último esclarecimento, desde o estabelecimento dos Estados Nacionais, as sociedades ocidentais passaram a ser divididas esquematicamente entre o setor público e o setor privado.

Ou seja, tudo aquilo que era considerado como bem público (saúde, educação e segurança, por exemplo) passava a ser gerido e regulamentado unicamente pelas entidades governamentais. De outro lado, toda atividade econômica com fins lucrativos passava a ser vista como uma esfera à parte: a iniciativa privada.

Mesmo que os governos tenham algumas empresas estatais, estas têm um fim social que não está restrito ao lucro. A Petrobrás, por exemplo, tem várias obrigações legais que nenhuma empresa privada teria. Na outra face da moeda, ainda que um hospital ou uma escola possam ser empresas privadas, há restrições legais para a sua atuação, tanto com relação aos lucros, quanto aos serviços prestados.

As ONG’s atuam em áreas que seriam específicas da responsabilidade governamental, mas também são entidades privadas sem fins lucrativos. Esta mistura fez com que a divisão simples entre público e privado ficasse obsoleta. Por isso, surgiu o termo terceiro setor para classificar sua atuação. O governo sendo o primeiro setor e a iniciativa privada, o segundo.