Iluminismo

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O Iluminismo é um importante movimento filosófico, político e econômico que surgiu na França do século XVIII como uma manifestação cultural da elite intelectual europeia. Apoiava o domínio do pensamento racional sobre o teocentrismo (Deus como centro das explicações) predominante na Europa desde o tempo Medieval, um pensamento que recusava e incriminava as ciências, e, assim, buscava reformar a sociedade por meio desse pensamento racional.

Também conhecido como Século das Luzes, o período iluminista tinha como ideal “jogar luzes nas trevas” em que seus adeptos consideravam estar a sociedade ocidental europeia, por essa não ter acesso livre a nenhum tipo de conhecimento que não fosse eclesiástico.

Iluminismo

Criticavam fortemente o absolutismo e defendiam a liberdade política, econômica e social. Buscava um conhecimento apurado da natureza, com objetivo de torná-lo útil. Gerou intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância da Igreja e do Estado. Basearam-se nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, assim como na extensão dos conhecimentos gerais de modo contribuir ao progresso da humanidade e à superação dos restos de tirania e superstição que provinham da Idade Média.

História do Iluminismo

O movimento Iluminista surgiu na França no fim do século XVII, perdurando até o fim do século XVIII. A definição do seu início é nebulosa, ao que muitos historiadores preferem datar o século XVIII como o Século das Luzes e adotar esse período como genuinamente iluminista, já que foi neste século o apogeu do movimento.  Alguns filósofos que despertaram o surgimento dessa corrente de pensamento foram John Locke (1632-1704), Baruch Spinoza (1632-1677) e Pierre Bayle (1647-1706), assim como o matemático Isaac Newton (1643-1727).

O Iluminismo teve maior intensidade na França, tendo influenciado a Revolução Francesa. Seu pensamento progressista e libertário também exerceu influência sobre outros movimentos sociais históricos mundiais, como a independência das colônias inglesas na América do Norte e a Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil.

A burguesia da época teve especial interesse na filosofia iluminista, pois, apesar de possuírem poder monetário, não possuíam o poder político que almejavam. O Antigo Regime ainda reinava na França e, por isso, o rei detinha os poderes absolutos. Além disso, o governo interferia nas questões econômicas e limitava as práticas mercantilistas.

No entanto, alguns monarcas europeus do período foram chamados de déspotas iluminados, déspotas esclarecidos ou soberanos filósofos, como Catarina II da Rússia (1729-96), Frederico II da Prússia (1712-86) e Maria Teresa d’Áustria (1717-80). Esses representantes muitas vezes apoiaram e fomentaram pensadores iluministas e até tentaram aplicar suas ideias às suas formas de governo. Com medo de perderem seus poderes, esses líderes tentavam uma conciliação entre o governo absolutista e as ideias de progresso iluminista.

Quais são as características do Iluminismo? O que esse movimento defendia?

As principais características presentes no movimento Iluminista dizem respeito à valorização da razão, principalmente do viés científico, pensamento aplicado tanto aos filósofos e intelectuais quanto aos matemáticos e físicos.

A filosofia Iluminista fez crescer a ideia de que o pensamento racional poderia ser aplicado com sucesso em outras áreas da vida, levando ao progresso e à felicidade. Assim, a própria política acabou por se apropriar da ideia de que a razão seria o melhor caminho para a sociedade, em contraponto à autoridade e estratificação provenientes do absolutismo.

Entendendo esses conceitos, é fácil compreender a ação dos vários nomes que estavam ligados ao movimento Iluminista para darem início ao desenvolvimento e publicação dos 35 volumes da Enciclopédia, entre as décadas de 1750 e 1770. Somando cerca de 70.000 textos sobre os mais variados assuntos de conhecimento humano, a Enciclopédia era um tipo de catálogo decorado da época em que foi lançada. Assim, toda a sabedoria humana foi reunida em uma só coleção totalmente disponível ao público, o que incentivava, assim, o pensamento livre.

Outra característica forte do período é a crítica aos valores da Igreja Católica e o anticlericalismo, que condenava a influência dos órgãos religiosos e suas crenças às esferas públicas e políticas. Assim, os filósofos iluministas combatiam a imposição da verdade pela Igreja.

Além da confiança no poder da razão, o pensamento iluminista também acreditava na existência de uma moral natural, uma religião natural e um direito natural, constituintes de normas jurídicas universais e imutáveis, como que “leis do Universo”. A natureza em si era objeto de observação e acreditava que suas leis implicavam também na lógica da vida da humanidade.

Sobre a moral e a religião naturais, consideravam que existiam em função da humanidade mundana: os princípios deveriam seguir propósitos utilitaristas, sem rituais, cultos ou dogmas. Assim, pode-se falar em uma natureza humana, que seria baseada em uma racionalidade inerente ao ser humano. Por meio dessa razão, seria possível também conhecer as leis da natureza, as mesmas que dizem respeito às leis da lógica, da vida social e da ordem das relações humanas.

Além do poder da Igreja sobre outros aspectos da vida que não fossem religiosos, criticavam também o poder absoluto dos reis e monarcas. Assim, pode-se concluir que os principais pontos de defesa do Iluminismo eram a liberdade econômica (não intervenção dos interesses do Estado absolutista na economia); o antropocentrismo racionalista (avanço da ciência e da razão lógica) e os ideais de progresso e liberdade individual.

Onde surgiu o Iluminismo?

Ainda que a França seja lembrada como a nação que guiou o processo de encadeamento dessa corrente de pensamento, o próprio termo “Iluminismo” referencia a palavra alemã Aufklarung, que, em português, significa esclarecimento; assim, os primeiros sinais do movimento puderam ser vistos em outros locais da Europa – como o Sacro Império Romano Germânico, a Inglaterra e a Holanda – antes que o Iluminismo pudesse encontrar seu terreno fértil na França. O pensamento alastrou-se por todos os países da Europa, tendo vários pensadores em diferentes regiões – e, em cada região, podia ser observado um tipo diferente de pensamento iluminista, todos seguindo as mesmas ideias, porém com suas diferenças teóricas regionais.

O Iluminismo no Brasil

Os ideais iluministas chegaram ao Brasil durante o século XVIII. Muitos brasileiros de classes mais altas da sociedade estudavam em universidades da Europa e, assim, entravam em contato com teorias e pensamentos que surgiam naquele continente. Retornando ao país depois dos estudos, semeavam os ideais Iluministas, principalmente nos grandes centros urbanos.

A principal influência do Iluminismo no território brasileiro foi possivelmente o evento da Inconfidência Mineira, em 1789, em Minas Gerais. Os maiores nomes inconfidentes eram conhecedores e admiradores das propostas iluministas e usaram esses pensamentos como base para fundamentar a tentativa de independência do Brasil.

As principais ideologias iluministas que exerceram influência sobre os inconfidentes mineiros foram as propostas de fim do colonialismo, fim do absolutismo, fim da monarquia e instauração da República, liberdade econômica (liberalismo), e a liberdade de religião, pensamento e expressão.

Mesmo não tendo alcançado o sucesso desejado, que seria a possível conquista da Independência do Brasil, os inconfidentes mineiros conseguiram difundir ainda mais os ideais iluministas entre as camadas urbanas da população brasileira.

O Iluminismo acabou por inspirar o pensamento liberal que impulsionou os processos de independência nas Américas. No Brasil, as ideias iluministas foram essenciais para orientar os movimentos voltados para a ruptura do domínio de Portugal sobre a colônia brasileira.

Para entender mais sobre esses movimentos de lutas sociais regionais no Brasil influenciadas pelos pensamentos iluministas, confira abaixo um pequeno resumo de cada uma delas:

  • A Inconfidência Mineira representou a luta do povo brasileiro a favor da liberdade contra a exploração de Portugal no período colonial. Ocorreu em Minas Gerais em 1789. Nesse período, o Brasil ainda era colônia de Portugal e era vítima de abusos políticos com a cobrança absurda de taxas e impostos. Ainda por cima, Portugal deliberou algumas leis que restringiam o crescimento industrial e comercial brasileiro. Em 1785, por exemplo, Portugal deliberou uma lei que impedia o andamento de indústrias fabris no território brasileiro. Por esse e outros motivos, os inconfidentes se sentiram impulsionados pelos ideais de liberdade liberais iluministas.
  • A Conjuração Carioca foi um episódio de repressão por parte do governo lusitano a alguns intelectuais que se reuniam no Rio de Janeiro com intenção de formar a Sociedade Literária, baseada em ideais iluministas. Nessa sociedade, alguns intelectuais como o cirurgião Ildefonso José da Costa Abreu, o professor de grego João Marques Pinto e o professor de retórica Manuel Inácio da Silva Alvarenga tinham como objetivo investigar e discutir teorias consideradas subversivas na época, como estudos profundos sobre a composição da água e a observação do eclipse lunar. O governo português ordenou a prisão dos participantes, mas anos depois foram soltos por não terem conseguido provas contra eles.
  • A Revolta dos Alfaiates aconteceu na Bahia, em 1798. Também chamada de Conjuração Baiana ou Inconfidência Baiana, tinha como objetivo a ruptura com os laços coloniais com Portugal. Contou com a participação da elite baiana, com as figuras do padre Agostinho Gomes e do jornalista e médico Cipriano Barata, adeptos do pensamento iluminista francês e críticos do sistema colonial português. O interesse pelos ideais de liberdade não vinha apenas da elite: a camada popular também desejava melhores condições de vida e o fim da situação de plena miséria que fora instaurada na população.
  • A Revolução Pernambucana ocorreu em 1817 e foi liderada pelos maçons Domingos José Martins e Antônio Cruz e pelos os padres João Ribeiro e Miguelinho. Eles organizaram um governo provisório, que perdurou por 75 dias, composto por representantes da justiça, do clero, do exército, do comércio e dos engenhos para manterem-se nos cargos depois de um grande confronto com o então governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Os pernambucanos insurgentes estavam a favor do regime republicano e tinham como objetivos diminuir os altos impostos cobrados pelos portugueses, abolir títulos de nobreza e ceder direito à liberdade de imprensa, assim como os Estados Unidos fizeram.

Os principais pensadores iluministas

Alguns dos principais nomes iluministas da época, suas nacionalidades e pensamentos podem ser conferidos a seguir:

  • John Locke(1632-1704), pensador inglês, acreditava que o homem conquistava conhecimento, ao passar do tempo, por meio do empirismo, doutrina essa que defendia que todo o conhecimento vem unicamente da experiência constituída da captação do mundo externo, pelos sentidos, e do mundo subjetivo, pela introspecção;
  • Voltaire(1694-1778), pensador francês, defendia a liberdade de pensamento e criticava a intolerância religiosa;
  • Jean-Jacques Rousseau(1712-1778), pensador francês, defendia a ideia de um estado democrático que garantisse igualdade para toda a população;
  • Montesquieu(1689-1755), filósofo e político francês, defendia a divisão do poder político em três: Legislativo, Executivo e Judiciário, modelo seguido no Brasil atualmente;
  • Benjamin Constant (1767-1830), político, escritor e pensador francês de origem suíça, defendia, em especial, o ideal da liberdade individual;
  • Denis Diderot(1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), ambos pensadores franceses, foram os responsáveis pela organização da Enciclopédia, conjunto de livros que reunia todos os conhecimentos e pensamentos da época.
  • Bento de Espinosa (1632–1672), pensador holandês, foi um grande filósofo racionalista e defendia, por isso, a ética e o pensamento lógico;
  • David Hume (1711-1776) foi um importante historiador e filósofo escocês. Refutou o princípio da casualidade e defendeu o ceticismo radical, assim como o livre-arbítrio;
  • Adam Smith (1723-1790) foi um economista e filósofo inglês, cujas ideias foram muito importantes para o liberalismo econômico;
  • Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), dramaturgo e pensador alemão, defendia a liberdade de pensamento entre os cristãos;
  • Immanuel Kant (1724-1804), grande filósofo alemão, desenvolveu seus estudos nas áreas da epistemologia, metafísica e ética.

 

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