Migrações Religiosas no Mundo

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As Migrações Religiosas no Mundo têm sido cada vez mais intensas e crescem em diversas partes do globo terrestre nas últimas décadas, tomando conta, inclusive, dos noticiários brasileiros e internacionais. Neste artigo vamos explicar um pouco sobre o que é migração religiosa, buscar entender as causas e as consequências que isso pode gerar no nosso mundo.

Migração religiosa nada mais é quando a pessoa, família ou comunidades inteiras migram para outra localidade por estarem sofrendo perseguição religiosa. Há várias situações de grupos migrarem para outra localidade. A religião como motivo de migração é uma das grandes causas, como veremos a partir de agora em vários exemplos.

o que são migrações religiosas?

Perseguição religiosa no país de origem

Esse tipo de perseguição é muito comum de ocorrer em países que vivem sob regimes autoritários, que proíbem que os cidadãos exerçam as suas crenças. Um dos casos mais emblemáticos está ligado aos judeus durante o domínio nazista na Europa, em meio à Segunda Guerra Mundial. Mas essa perseguição também pode ser suscitada não apenas pelo aparelho estatal, mas também por grupos civis, que não tenham relação com o Estado.

O Brasil mesmo é um estado laico, isto é, não adota nenhuma religião em sua Constituição, e também prega a tolerância religiosa entre seus cidadãos. Porém, o Disque Direitos Humanos registrou, entre 2011 e 2014, 543 denúncias de violações de direitos por discriminação religiosa. Em 216 casos, a religião da vítima foi informada, evidenciando quem são os que mais sofrem com esse tipo de perseguição: 35% provém do candomblé e umbanda, 27% dos evangélicos, 12% dos espíritas, 10% de católicos, 4% de ateus, 3% de judeus, 2% de muçulmanos e outros 7% de religiões variadas. Ou seja, não somos tão tolerantes quanto achamos e apregoamos.

Se no Brasil há um movimento crescente de intolerância religiosa contra quem pratica as religiões africanas, no resto do mundo os cristãos ainda são os mais perseguidos. Em 2016, por exemplo, mais ou menos 90 mil cristãos foram assassinados por conta de suas crenças. Cerca de um terço do total dessas mortes foram atribuídas a grupos islâmicos extremistas, casos do Estado Islâmico (ISIS), que atua basicamente no Iraque e na Síria, e do Boko Haram, um grupo muito violento que tem predominância na Nigéria.

Para se ter uma ideia do impacto disso, apenas no Iraque a população cristã, que atingia 1,5 milhões de pessoas em 2003, não passa de 300 mil atualmente. Boa parte desse total acabou migrando para outros países e sendo recebido como refugiado.

Desejo de levar a religião para outros territórios

Outra causa da migração religiosa está ligada ao crescimento de invasões territoriais, baseadas na crença de que era preciso ensinar a religião ao maior número de pessoas, indo a todos os lugares possíveis. Na própria Bíblia há essa citação: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Em muitos casos isso virou estratégia de dominação, incorporando a ideia de invadir e destruir religiões distintas daquele local. Um exemplo da ideia de levar o evangelho a toda a criatura está muito envolvida com o trabalho dos padres jesuítas europeus que atravessaram o Atlântico para catequizar os índios brasileiros logo após o Descobrimento do Brasil.

As Cruzadas, que se desenvolveram entre 1095 e 1291, também poderiam ser enquadradas nesse aspecto. Nesse caso, porém, o tom da guerra predominava, já que as principais potências europeias da época se organizavam, reuniam seus melhores homens e os enviavam para combater o domínio islâmico na região da Terra Santa. O objetivo era recuperar o poder sobre territórios sagrados, como é o caso de Jerusalém.

Ideia de que determinado território pertence à sua religião

O pensamento de que um pedaço de terra está destinado aos seus é o caso do movimento sionista, em que os judeus que o integram veem em Jerusalém a terra prometida a eles, como está no Torá, seu livro sagrado. Desta forma, os judeus se direcionaram intensamente para Jerusalém, em um movimento que ganhou força no começo do século XX e cresceu ainda mais ao término da Segunda Guerra Mundial e com o fim do domínio nazista, que impôs uma enorme migração de judeus pelo mundo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu em 1947 a repartição do território que até então pertencia à Palestina, dedicando 51% de Jerusalém com os judeus, formando o Estado de Israel, e os outros 49% ficando com os palestinos, com sua população formada em sua maioria por árabes. Contudo, vários países vizinhos questionaram a medida, alegando que a mudança prejudicava os árabes da região. Bem, esse conflito segue até os dias de hoje e é a base de muitos confrontos e mortes entre israelenses e palestinos.

Vale ressaltar que as peregrinações a locais sagrados não podem ser enquadradas como uma das causas da migração. Isso porque não há intenção de morar ou trabalhar, seja de forma permanente ou temporariamente, naquela localidade. Por isso, esses deslocamentos não são enquadrados em migração por motivos religiosos.

De qualquer forma, vale mencionar alguns desses lugares que recebem milhões de peregrinos todos os anos. Um dos mais famosos é Meca, ícone da religião muçulmana. É obrigatório a todo muçulmano ir para Meca, que fica na Arábia Saudita, ao menos uma vez na vida. Outras peregrinações, relacionadas à religião católica e muito famosas são as de Fátima, em Portugal, de Lourdes, na França, e de Santiago de Compostela, na Espanha.

Religiões dos migrantes no mundo

Aproximadamente metade de quem faz migração no mundo pertence à religião cristã. Logo atrás, com um quarto, são muçulmanos, enquanto que o resto se divide entre hindus, judeus, budistas, outras religiões e pessoas sem religião. Não à toa, cristãos e muçulmanos perfazem a maior parte da população religiosa da Terra.

Porém, há alguns casos em que determinados grupos religiosos possuem um menor peso no que tange à migração, em comparação com a sua população. É o caso dos hindus, que correspondem a algo entre 10% e 15% da população mundial e, no entanto, compõem menos de 5% dos migrantes internacionais. Ao se realizar um comparativo com sua população total, os judeus são os que mais migram de território: mais ou menos 25% dos judeus residem em lugares diferentes de onde nasceram. Para se ter uma ideia da discrepância, cristãos e muçulmanos correspondem apenas a 5% e 4%, respectivamente, desse número.

A título de curiosidade, os Estados Unidos são o país que mais acolhe cristãos. Já o México é aquele que mais manda cristãos para outras regiões. A Arábia Saudita é quem mais recebe muçulmanos. No caso dos judeus, Israel é o país destino dessa religião, sendo que a maior parte deles vêm da Rússia. A Índia é o país que mais recebe e envia hindus pelo globo. A China é o país que tem mais emigrantes sem religião, enquanto que possui a maior quantia de emigrantes budistas é o Vietnã.

Intolerância religiosa afeta migrantes

As perseguições religiosas em muitos locais têm sido uma das principais causas das migrações internacionais. Além disso, a guerra, a fome e a miséria têm feito muitas populações, em especial na África e no Oriente Médio, a se lançar desesperadamente em frágeis barcos no mar em busca de alcançar a Europa e ter uma vida melhor. As migrações atuais têm levado a sérios problemas humanitários, pois muitos países não têm sabido lidar com a situação, alguns deles até mesmo proibindo a entrada dos refugiados em seus territórios.

Por isso, a intolerância religiosa é um problema que afeta muitas pessoas que chegam a um novo país, independentemente de ter sido por questões religiosas ou não. De acordo com pesquisa da Pew Research, as restrições de governos a práticas religiosas, além das hostilidades sociais contra religiosos aumentaram em 2015. O Oriente Médio e o Norte da África são as áreas consideradas mais intolerantes do planeta.

Porém, a Europa tem aumentado sensivelmente seus níveis de intolerância e violência contra pessoas por causa da religião, em especial contra os muçulmanos, principalmente por conta dos atentados terroristas que acabam afetando muçulmanos que não têm nada a ver com os ataques e que até repudiam essa violência. E como já dissemos, ao mesmo tempo tem entrado muitos refugiados dessas regiões em busca de condições melhores de vida. Portanto, como consequência das migrações tem tido um movimento bastante complicado e pouco debatido sobre como resolver isso.

Para se ter uma ideia, França e Rússia tiveram mais de 200 casos de uso de força por parte do Estado contra grupos ligados a alguma religião. Um exemplo disso é a proibição ao exercício público da religião, como na França, que ficou instituída a lei que proíbe o uso da burca. Ou então na Rússia, em que muçulmanos e grupos como Testemunhas de Jeová estão sendo encarados como extremistas, levando muitos a serem presos sem um processo correto e uma acusação clara.

Por outro lado, cresce o número de atentados terroristas em várias partes do globo, afetando a visão das pessoas em relação a determinadas religiões, já que há movimentos extremistas que se utilizam de determinadas crenças para espalhar ódio e morte em vários cantos do planeta. Infelizmente, isso faz com que a intolerância religiosa sobressaia em ambos os lados.