As FARC

Spread the love

FARC é a sigla para Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), um grupo guerrilheiro armado de inspiração marxista-leninista.

Vários países atribuem às Farc o status de grupo terrorista, como Colômbia, Peru, Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia. A União Europeia revogou essa atribuição ao grupo guerrilheiro após a conclusão do Acordo de Paz, em 2016.

tudo sobre as farc

A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional não considera as Farc como uma organização terrorista. Mesmo assim, esse organismo já condenou publicamente as Farc por distintos atos de terrorismo, como o assassinato de civis desarmados, além de pedir à guerrilha de forma direta o término dos atos de violação de direitos humanos contra civis, ataques a ambulâncias da Cruz Vermelha, sequestro de civis, entre outros.

Os críticos da guerrilha afirmam que, embora inicialmente suas atividades fossem caracterizadas pela autodefesa e guerra de guerrilhas contra o Estado, com o passar o tempo, as Farc passaram a ter ligações com o tráfico de drogas, mineração ilegal e extorsão.

Os meios de luta empregados pelas Farc também recebem críticas por incluírem o uso de minas terrestres, assassinato de civis, membros do governo, policiais e militares, sequestros com fins políticos e extorsivos, atentados com bombas e armas não convencionais, atos que provocaram a saída forçada de civis, recrutamento de menores, destruição de pontes e estradas com dinamite, além da destruição de postos policiais e das moradias cercanas.

De acordo com a ONU, as Farc foram responsáveis por 12% dos assassinatos de civis durante o conflito armado na Colômbia. Embora haja especulações sobre a atuação das Farc no Brasil, não há comprovação de que a mesma de fato exista.

Em 2016, após a conclusão do acordo de paz firmado com o governo colombiano, as Farc deixaram as armas (ao menos oficialmente), dando origem ao partido político, mantendo a sigla Farc, que significa Fuerza Alternativa Revolucionária del Comun (Força Alternativa Revolucionária do Comum).

Como as FARC surgiram

A história da Colômbia é marcada pela violência, pelo menos desde o século XIX. Desde então, o constante enfrentamento entre dois grupos políticos, liberais e conservadores, alimentava conflitos em todo o país. A expressão mais intensa de tal enfrentamento se desencadeou a partir de 1948, com o assassinato do candidato liberal Jorge Eliécer Gaitán.

O episódio iniciou uma fase de enfrentamentos sangrentos, que primeiro se concentravam na capital Bogotá, mas logo foram se convertendo em um conflito predominantemente rural. Esse período da história colombiana é denominado “La Violencia” (A Violência).

O início da história das Farc pode ser situado no surgimento de grupos de autodefesa, compostos por camponeses de tendência liberal, que perderam suas terras durante o período da Violência, e que depois adotaram a ideologia marxista-leninista.

Em 1964, esses camponeses haviam se concentrado na zona de montanhas, no centro do país. O lugar se chama Marquetalia, no departamento de Tolima. Na região da Marquetalia foi criada uma espécie de “república independente”, constituída por cerca de 50 homens que lutaram durante A Violência, e suas famílias.

O grupo tinha como um de seus líderes Manuel Marulanda Vélez, de codinome “Tirofijo”, que seria o primeiro chefe das Farc.

Em meados de 1964, as forças estatais atacaram Marquetalia com centenas de homens, forçando a fuga dos camponeses armados. Como podemos observar, a história do surgimento das Farc mescla fatores históricos e sociais internos da Colômbia e o contexto da Guerra Fria.

História das FARC

Depois de serem derrotados e se dispersarem, Marulanda, jundo a Jacobo Arenas (outro Farc líder original), fundaram uma guerrilha nomeada Bloque Sur, que em 1966 finalmente adotou o nome Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, a maior guerrilha da Colômbia.

Vale mencionar que as Farc não são o único grupo guerrilheiro de inspiração comunista surgido na Colômbia nesta conjuntura histórica. Data do mesmo período o surgimento do ELN (Ejército de Liberación Nacional), que segue combatendo até os dias atuais. Depois surgiram o EPL (Ejército Popular de Liberación), o M-19 e outras guerrilhas, desmobilizadas posteriormente.

Em princípios da década de 1980, as Farc decidiram ter como objetivo explícito a tomada do poder, adotando o nome FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo). No final da década, o surgimento de grupos paramilitares de extrema direita, financiados por setores das Forças Armadas, grandes proprietários rurais, empresários e políticos, assim como narcotraficantes, agravaram a violência do conflito armado.

Além dos enfrentamentos com as Farc, esses grupos paramilitares foram responsáveis por assassinatos de camponeses e ativistas sociais.

Nesse mesmo período, o narcotráfico começou a ter maior influência sobre o conflito armado colombiano. Tanto os grupos paramilitares quanto as Farc se beneficiaram das atividades ligadas ao tráfico de drogas, embora o grupo guerrilheiro negue publicamente qualquer ligação com o narcotráfico.

A partir do ano 2000, os Estados Unidos começaram a fornecer assistência técnica e econômica à luta contra os grupos guerrilheiros, especialmente as Farc, e o narcotráfico, no contexto do Plano Colômbia, injetando ao longo de 15 anos aproximadamente U$$ 10.000 milhões no país.

Isso permitiu a modernização das forças militares e da polícia. Por outro lado, também por volta do ano 2000, as Farc alcançaram sua maior capacidade militar, com 20.000 combatentes em armas.

Os anos seguintes registraram uma sucessão de acontecimentos dramáticos, com métodos mais violentos de guerra. Pelo lado das Farc, se destacou o crime de sequestro, enquanto os grupos paramilitares realizaram numerosos massacres. Ambos grupos, além das próprias forças estatais, realizaram violações de direitos humanos. Em consequência, a maioria dos mortos durante os conflitos foram civis.

Objetivos das FARC

Por se tratar de um grupo de inspiração marxista-leninista, alguns opinam que o objetivo das Farc ainda seja tomar o controle do Estado e transformar a Colômbia em um país comunista.

Atualmente, o grupo guerrilheiro declara publicamente que busca acima de tudo a paz e a reconciliação entre os colombianos. As Farc afirmam ter como objetivo conseguir das classes dominantes o compromisso de erradicar o uso da violência como resposta às reivindicações populares. Afirmam ainda querer que na Colômbia se configure a mais ampla democracia política.

Mantendo-se fiel às suas raízes ideológicas, o grupo se autodeclara parte da luta mundial contra o imperialismo e o neoliberalismo, contra a destruição ambiental, contra o patriarcado e todas as formas de discriminação entre os seres humanos.

Seus críticos, por outro lado, opinam que essa retórica é apenas uma fachada para os reais objetivos do grupo, que seriam continuar obtendo lucros com sequestros, narcotráfico e extorsões.

As FARC atualmente: acordo de paz

Atualmente, estima-se que as Farc tenham 7.000 integrantes armados. Alguns analistas opinam que esse debilitamento do grupo levou seus líderes a considerarem as negociações de paz como uma alternativa.

Entretanto, também existe o contra-argumento de que, depois de mais de uma década de ofensiva estatal das forças do governo sem sucesso em derrotar as Farc, negociar a paz também foi a melhor alternativa para o Estado.

De qualquer forma, em novembro de 2012, se iniciaram os diálogos de La Habana (Cuba) entre os líderes guerrilheiros e o governo do presidente Juan Manuel Santos.

Houve tentativas de negociar a paz anteriormente, todas fracassadas, em 1984, 1991 e 1998 – 2002.

As FARC Colômbia: acordo de paz

O acordo de paz firmado entre as Farc e o governo da Colômbia em agosto de 2002 previa um processo integral e simultâneo que estabelece: o cessar fogo e de hostilidades bilateral e definitivo; deposição de armas, reincorporação das Farc-EP à vida civil, de acordo com seus interesses; que o governo nacional coordenará a revisão da situação das pessoas privadas de liberdade, processadas ou condenadas por pertencer ou colaborar com as Farc; que o governo nacional intensificará o combate para acabar com as organizações criminosas e suas redes de apoio; que o governo nacional revisará e fará reformas e ajustes institucionais necessários para fazer frente aos desafios da construção da paz; garantias de segurança.

Em 2016, foi realizado um plebiscito para que os colombianos validassem o acordo de paz, concluído neste ano. Como resultado, 50.21 % dos votos foram pelo “não” e 49.78% pelo “sim”.

Não é possível determinar com exatidão as causas do conflito armado Colômbia, que já dura mais de 50 anos. Entretanto, há um certo consenso de que fatores como falta de emprego e oportunidades, desigualdade social, concentração da riqueza, intolerância e corrupção têm um papel importante na manutenção do conflito.

Apesar de rica em recursos naturais, a Colômbia é um dos países mais desiguais do mundo, o terceiro, depois do Haiti e Honduras na América.

É possível afirmar que três elementos principais se encontram nas origens do conflito armado, que tem como atores principais a guerrilha, representada majoritariamente pelas Farc, os grupos paramilitares de extrema direita e o Estado, são eles: a tendência a exercer a violência a partir do poder e da política; a falta de solução para a questão agrária no país; a falta de garantias institucionais à pluralidade e ao exercício da política.

As estatísticas sobre o conflito apontam mais de 260.000 mortos, dezenas de milhares de desaparecidos e quase sete milhões de pessoas forçadas a deixarem seus lares.