Guerra Civil na Síria

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No ano 35 da nossa era, o oficial romano Saulo de Tarso e seus legionários chegaram às portas de Damasco, depois de longa viagem, para cumprir uma missão: capturar adeptos de uma nova seita, que seguiam um pregador da Galileia de nome Jesus, e que representavam uma ameaça ao Império de Roma.

Os evangelhos contam o aconteceu com Saulo, que passou a ser conhecido como Paulo, e mostram um pouco o que era a capital da Síria dois mil anos atrás. Na época de Saulo, Damasco já era uma importante cidade, com mais de 4 mil anos de idade, marcada por guerras tão sangrentas como a de hoje. É considerada a cidade-capital mais antiga do mundo.

O nome Damasco significa, literalmente, “cidade do Jasmim” mas nem a lembrança dessa tenra flor trouxe alguma paz à região. Considerada como a encruzilhada do mundo, por ali passavam caravanas e exércitos do Egito, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. A capital da Síria era conhecida por suas fontes de mármores, suntuosos palácios e ruas enfeitadas por um efervescente comércio.

A capital da Síria hoje, assim como suas principais cidades, são apenas amontoados de escombros fumegantes, com explosões diárias dos ataques suicidas dos terroristas do Estado Islâmico e sob o fogo cruzado de rebeldes curdos e dos jihadistas da Frente Nusra.

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Quais os motivos da guerra civil na Síria

Para entender qual a origem da guerra civil na Síria é preciso voltar um pouco na história. Embora seja uma das mais antigas regiões habitadas do planeta, a Síria atual surgiu após o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ficando sob o domínio da França.

A independência do país aconteceu em 1945, mesmo com as tropas francesas permanecendo na Síria até o ano seguinte. O período que se seguiu foi marcado por diversos golpes militares de estado até 1970, quando assumiu o poder Hafez Al-Assad, pai do atual presidente Bashar AlAssad, que esteve no comando do País até 2000, com um governo sírio considerado autoritário. Ao longo desse tempo, a Síria enfrentou diversas guerras, inclusive contra Israel.

Por volta do ano 2000, tendo Bashar Al-Assad assumido o governo sírio, sucedendo o seu pai, a população Síria se queixava de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão policial.

Em março de 2011, uma manifestação inicialmente pacífica foi o estopim do conflito atual. Um grupo de adolescentes havia pintado frases revolucionárias num muro de uma escola e, por isso, foram presos e torturados pelas forças de segurança.

A ação repressiva do governo sírio gerou protestos por mais liberdades no país, seguindo um grande movimento de revolta que ocorria em países vizinhos, e que ficou conhecido como Primavera Árabe.

O seguimento das rebeliões populares que aconteceram nos diversos países contra regimes ditatoriais à procura de melhorias sociais para a população se iniciou em 2010, na Tunísia. Os governantes de nações como Egito, Líbia, Iêmen, Bahrein, Jordânia e Angola também presenciaram levantes em suas cidades, da mesma forma como ocorreu na Síria.

Na Síria, o governo reagiu aos protestos de forma ainda mais violenta, atirando contra os manifestantes, que pediam a saída de Assad, matando muitos deles, o que elevou ainda mais a tensão social. No fim de julho de 2011, o número de pessoas nas ruas pedindo a saída do presidente já chegava aos milhares.

Rapidamente a violência tomou conta do país e grupos rebeldes formaram brigadas para combater o exército e tomar o controle das cidades. Em 2012, os confrontos já aconteciam na capital, Damasco, e em Aleppo, outra importante cidade.

Da oposição à Assad, o conflito se ampliou para uma luta sectária entre facções religiosas. De um lado a maioria de muçulmanos sunitas do país e de outro os xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente. Esse novo contorno arrastou para o conflito as potências regionais e internacionais, dando-lhe uma dimensão muito mais grave. Dois anos depois de iniciada, a guerra civil na Síria já havia matado 90 mil pessoas, segundo a ONU.

Grupos envolvidos na guerra civil da Síria

Além do envolvimento das grandes potências, como Estados Unidos e Rússia, representantes de diversos grupos estão em luta no conflito. Os mais importantes grupos extremistas são os integrantes do Estado Islâmico e a Frente Nusra, ligada à Al-Qaeda. Os soldados do exército curdo e a oposição moderada da própria Síria também estão envolvidos.

Os combatentes do Estado Islâmico, com ações violentas que chocam o mundo, criaram uma “guerra dentro da guerra”, pois além de tentar derrubar o governo, também impõem muitas mortes nos grupos moderados de aposição e até dos membros da frente Nusra.

Existe ainda uma outra força envolvida no conflito. São os curdos, uma nação que não tem país e nem Estado. Eles habitam territórios da Síria, Turquia, Iraque, Irã, Armênia e Azerbaidjão e sua principal reivindicação é a criação de um Estado próprio para o seu povo, o Curdistão, como no passado foi feito para o povo israelita.

Desde o início da guerra civil Síria, a Unidade de Defesa Popular (YPG), um exército curdo formado para defender as regiões habitadas por esse povo no norte do país se fortaleceu. Para Assad, esse grupo tem sido útil porque luta contra o Estado Islâmico e contra os grupos que formam a oposição moderada.

A ação de outros países

A partir de 2014, os Estados Unidos, Reino Unido e França intensificaram os ataques ao governo sírio, com a ação de bombardeios aéreos no país. A Rússia, por sua vez, aliada de Assad, tenta estabilizar o governo atual, atacando as forças do Estado Islâmico.

Os Estados Unidos culpam Assad pelas atrocidades cometidas e exigem que ele deixe o poder. Enquanto isso, a Rússia quer a permanência de Assad no poder, por ser ele um defensor dos interesses de Moscou na região. O governo sírio também tem o apoio do Irã, de maioria xiita, enquanto a Arábia Saudita e seus aliados ajudam a armar os rebeldes, que também são apoiados pelo governo turco.

A escalada de terror causada por grupos jihadistas como o Estado Islâmico – que aproveitou o conflito para conquistar grandes territórios – aumentou a tensão na região, com consequências para outros países.

Como nenhuma das partes está conseguindo impor uma derrota à outra, e o governo Assad demonstra força suficiente para se manter no poder, a comunidade internacional não vê outra saída para os conflitos na Síria que não passe por uma negociação política.

No entanto, as diversas tentativas de se chegar a um acordo de paz não têm obtido qualquer êxito e até mesmo o apelo de líderes mundiais, como o Papa Francisco, são insuficientes para pôr fim ao conflito.

Após todos esses anos de guerra, as forças de oposição política da Síria também ganharam espaço. Foi criado o Conselho Nacional Sírio, principal representante dos oposicionistas em nível internacional, e o Exército Nacional Sírio, formado por desertores das Forças Armadas oficiais.

Organizaram-se também os Comitês de Coordenação Locais, uma grande rede de contatos entre os oposicionistas, e o Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado em Londres.

Impactos da guerra

Como a guerra civil na Síria se intensificou, o conflito armado ganhou grandes proporções. Alguns dados são impressionantes. Segundo a ONU, o número de mortos, em 2017, já passava dos 500 mil.

O número de refugiados soma mais de 5 milhões de pessoas, a maioria mulheres e crianças. Por causa da migração, países vizinhos como o Líbano, Jordânia e Turquia estão sob riscos.

Para dar ajuda humanitária a mais de 13 milhões de pessoas, serão necessários mais de 3 bilhões de dólares. Além disso, na Síria, cerca de 70% da população não tem acesso à água potável e mais de 2 milhões de crianças não podem ir à escola.

O que é a Guerra Civil na Síria – Resumo

A guerra civil na Síria na verdade é uma tentativa de derrubada do governo em um país que praticamente desconhece a democracia. A família Assad está no poder desde 1970 e domina um país que tem uma posição estratégica, pois é uma importante saída para o Mar Mediterrâneo, e se inclui na chamada “geopolítica do petróleo”, que está por trás da maioria dos conflitos do Oriente Médio.

Bashar Al-Assad é filho de Hafez Al-Assad, que governou a Síria entre 1970 e 2000. Há 20 anos no poder, o ditador se reelegeu em 2014 para mais um mandato de sete anos. Não acontecia uma eleição com mais de um candidato havia mais de meio século. O resultado, no entanto, foi considerado uma fraude pelos observadores.

As potências mundiais, como EUA e Rússia não querem perder sua influência na região, enquanto países do Oriente Médio enxergam a queda de Assad, ou a sua permanência, como uma forma de fortalecer seus regimes.

Grupos extremistas, como o Estado Islâmico, que têm pretensões de ataques mundiais, estão na guerra da Síria para usar o país como base ou trampolim para as suas ações.

Assim, em resumo, a Rússia e os Estados Unidos querem o fim do Estado Islâmico. Porém, os Estados Unidos querem a queda do governo de Bashar Al-Assad. Por isso, apoiam os rebeldes. A Rússia, por sua vez, acredita na força de Assad e está apoiando seu regime. A Síria, então, é o território do fogo cruzado de uma antiga guerra fria, que ainda não acabou.