Talibã

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Uma das consequências dos ataques terroristas contra o Pentágono e o World Trade Center em 11 de setembro de 2001 que causaram a morte de aproximadamente 3 mil pessoas, feriram mais de 6 mil pessoas e causaram prejuízos de bilhões de dólares, foi ter chamado a atenção global para o grupo Talibã e seu regime no Afeganistão.

Nesse país de maioria muçulmana da Ásia Meridional, acolhido pelo regime instalado pelo Talibã nos anos 1990, atuava a Al Qaeda, grupo terrorista que foi responsabilizado pelos atentados de 11 de setembro. Ainda em atividade, o Talibã é um dos mais famosos grupos extremistas islâmicos do mundo.

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O que é o Talibã, como surgiu o Talibã e como foi sua ascensão ao poder

O Talibã é um grupo extremista islâmico do ramo sunita. Seu nome significa “estudantes” na língua pachto, o idioma falado pelos membros do grupo étnico pachto, o maior do Afeganistão, que corresponde a 40% da população, e o segundo maior do Paquistão, país vizinho do Afeganistão. A maior parte dos membros do grupo Talibã pertence a esse grupo étnico.

O Talibã foi fundado no começo dos anos 1990, durante a guerra civil que se seguiu à queda de um regime pró-soviético, por refugiados afegãos que estudaram em madraças (estabelecimentos de ensino religioso islâmicos) financiadas pela Arábia Saudita e localizadas no Paquistão, onde tiveram contato com uma pregação islâmica radical.

Por exemplo, o líder do grupo durante sua ascensão ao poder, o Mulá Omar (mulá é um título usado por, e ter outros, clérigos muçulmanos em países da região), foi estudar no Paquistão em 1979 e voltou ao seu país no começo da década de 1980 para lutar contra as tropas soviéticas que permaneceram no país entre 1979 e 1989.

Em 1996, o grupo, que contou com financiamento saudita e apoio militar paquistanês, conseguiu tomar Cabul, a capital do país, estabelecendo o Emirado Islâmico do Afeganistão. O Talibã conseguiu controlar cerca de quatro quintos do território do país.

O regime do Talibã

O regime do grupo Talibã caracterizou-se pela imposição de uma visão rígida da xaria, a tradicional lei islâmica. Entre as medidas tomadas pelo grupo, pode ser mencionada a proibição do cinema, da televisão e da música. Punições como amputação de uma mão dos condenados por roubo e a execução dos condenados por assassinato ou adultério foram adotadas.

Especialmente notadas pela comunidade internacional foram as restrições impostas pelo regime do Talibã à participação das mulheres na sociedade. Garotas e mulheres tiveram que parar de estudar. Mulheres foram proibidas de sair de casa sem a companhia de um parente do sexo masculino ou sem usar a burca, uma vestimenta feminina que cobre todo o corpo, inclusive o rosto, e que possui uma rede através das quais as mulheres podem enxergar. As mulheres foram proibidas de trabalhar fora de casa – exceções foram abertas a profissionais da área de saúde, pois homens não podiam atender pacientes do sexo feminino. Proibiu-se ainda às mulheres andar de moto ou de bicicleta mesmo acompanhadas.

Segundo o Talibã, a democracia e a existência de partidos políticos são incompatíveis com a lei islâmica. Formado principalmente por membros do grupo pachto, o Talibã mostrou-se pouco interessados em dividir o poder com as outras etnias do país ou conceder-lhes autonomia, o que, em vários lugares do Afeganistão, levou seu domínio a ser visto como algo como um domínio estrangeiro.

Embora inicialmente decisões tenham sido precedidas de consultas às tradicionais assembleias das tribos do grupo pachto, com o passar do tempo, a liderança do Mulá Omar foi se tornando mais autocrática. Eram aplicados pelo Talibã castigos severos àqueles que ousassem desafiar os ditames do grupo. Por exemplo, uma mulher descoberta usando esmalte, produto banido pelo Talibã, teve a ponta do polegar arrancada. Sohaila, uma mulher condenada por ter caminhado com um homem que não era seu parente, recebeu 100 chibatadas.

Enquanto durou, o regime do Talibã contou com limitadíssimo reconhecimento diplomático: era reconhecido apenas por Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, os quais retiraram seu apoio depois dos ataques de 11 de setembro. A comunidade internacional, de modo geral, apoiava a Aliança do Norte (também conhecida pelo nome oficial de Frente Islâmica Unida para a Salvação do Afeganistão), liderada por Ahmad Shah Massoud, que havia se destacado na luta contra os invasores soviéticos e tinha sido ministro da defesa do país antes da chegada ao poder do Talibã.

Massoud afirmava defender a instalação de um regime democrático no país e os direitos das mulheres, que ele reconhecia terem sido tradicionalmente oprimidas no Afeganistão – nas áreas sob seu controle, instituições democráticas foram estabelecidas e as mulheres podiam estudar e não precisavam usar a burca.

O Talibã e suas relações com a Al Qaeda

O envolvimento do bilionário saudita Osama bin Laden com o Afeganistão começou durante o período de ocupação do país por forças soviéticas. Ele pagou pelo transporte, acomodações e treinamento de voluntários muçulmanos de vários países interessados em lutar no Afeganistão contra a agressão do regime soviético. Além disso, ele ajudou a canalizar os recursos doados por países do Golfo Pérsico para a luta dos mujahidin (“combatentes” em árabe, plural de mujahid, palavra geralmente empregada para se referir a alguém empenhado em uma ação meritória – por exemplo, a defesa do Islã).

Em 1989, depois de mais de 9 anos no país, as tropas soviéticas, no contexto das reformas levadas a cabo pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, que desejava melhorar a imagem de seu país e reduzir seus elevados gastos militares, que eram um fardo para a economia, completaram sua retirada do Afeganistão. Em 1992, o regime que os soviéticos tinham apoiado e que havia sido estabelecido em 1978 por um golpe militar, foi derrubado, o que deu início a uma guerra civil durante a qual surgiria o Talibã.

De volta à Arábia Saudita, Osama bin Laden já era considerado por muitos muçulmanos como um herói. Logo, porém, ele entrou em choque com o regime de seu país. A ameaça representada por Saddam Hussein, que invadiu o Kuwait, mantinha tropas na fronteira com a Arábia Saudita e desenvolvia uma pregação de unidade pan-árabe, que podia estimular o crescimento da oposição interna ao regime saudita, levou o governo da Arábia Saudita a solicitar proteção americana.

Osama bin Laden havia se oposto a essa medida e oferecido a ajuda dos homens sob seu comando para proteger o país. Segundo ele, as cidades de Meca e Medina, intimamente ligadas à trajetória do profeta Maomé e onde ficam as duas mesquitas mais sagradas, deviam ser defendidas por muçulmanos. Sua oferta foi rejeitada, e tropas americanas chegaram ao país para defendê-lo de um possível ataque de Saddam Hussein.

As continuadas críticas de Osama bin Laden ao regime saudita acabaram levando em 1992 a seu exílio. Ele se instalou no Sudão, país localizado no norte da África. Seus investimentos no país e sua generosidade para com os pobres tornaram-no popular.

Pressões de países como a Arábia Saudita, que em 1994 privara o saudita de sua cidadania, e o Egito e o desejo de melhorar o relacionamento com os Estados Unidos, que acusavam Osama bin Laden de manter campos de treinamento de terroristas no país e o Sudão de apoiar o terrorismo, levaram o governo sudanês a pedir ao saudita que deixasse o país. Osama bin Laden instalou-se em maio de 1996 no Afeganistão, onde estabeleceu bom relacionamento com Mulá Omar, líder do Talibã.

Ainda em 1996, em agosto, Osama bin Laden declarou guerra aos Estados Unidos, que ele acusava de ocupar os dois lugares mais sagrados do Islã, devido à presença de tropas americanas na Arábia Saudita, onde elas estavam para monitorar as forças de Saddam Hussein, que ainda estava no poder mesmo depois de suas forças terem sido derrotadas no Kuwait por uma coalizão liderada pelos americanos.

Em 7 de agosto de 1998, a embaixada americana em Dar es Salaam, na Tanzânia, e a embaixada americana em Nairóbi, no Quênia, foram atacadas de forma quase simultânea com caminhões-bomba. Osama bin Laden havia participado do planejamento dos ataques, que aconteceram no oitavo aniversário da chegada dos soldados americanos à Arábia Saudita. O regime do Talibã recusou-se a extraditar o saudita para os Estados Unidos.

Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, levados a cabo pela Al Qaeda, grupo terrorista fundado e liderado por Osama bin Laden, levaram o governo americano a exigir a entrega dos líderes da organização, inclusive do próprio bin Laden, a libertação dos estrangeiros detidos no Afeganistão, a proteção de jornalistas, diplomatas e trabalhadores ligados à ajuda humanitária presentes no país, o fechamento imediato dos campos de treinamento de terroristas e acesso integral dos Estados Unidos a esses campos para fins de inspeção.

A recusa do regime do Talibã de atender a essas exigências levou a Organização do Tratado do Atlântico Norte a lançar uma invasão do Afeganistão liderada pelos Estados Unidos. A ação conjunta da Aliança do Norte (a essa altura, desfalcada de Massoud, assassinado poucos dias antes do 11 de setembro, possivelmente por ordens de Osama bin Laden) e das tropas estrangeiras levou à queda do regime do Talibã.

O Talibã hoje em dia

Depois da queda de seu regime, o Talibã começou uma insurgência. Os principais objetivos do Talibã são conseguir a retirada das forças estrangeiras atuando no país e derrubar o governo do Afeganistão. Para a realização desses objetivos, além de confrontos armados com as forças adversárias, vale-se o Talibã do terrorismo, inclusive ataques suicidas.

Segundo a Organização das Nações Unidas, no ano de 2011, ataques do Talibã foram responsáveis por 80% das mortes e ferimentos de civis causados no conflito no Afeganistão. Um exemplo de atentado do Talibã é um ataque com carro-bomba em julho de 2017 na capital Cabul em que, segundo fontes oficiais, morreram 24 civis e foram feridos 42 feridos.

O atual líder do grupo é Hibatullah Akhundzada, que substituiu em 2016 Akhtar Mohammad Mansoor (morto em um ataque de drone americano), que substituiu Mulá Omar, que, segundo o governo afegão, morrera em 2013 de tuberculose.

Embora defendam visões radicais do Islã e o uso da força para impô-las e tenham sido acusados de trabalhar juntos em um ataque contra xiitas no Afeganistão, o relacionamento entre o Talibã e o Estado Islâmico é turbulento: segundo o governo de Jowzjan, província afegã, um confronto por território entre o Talibã e o Estado Islâmico em abril de 2017 custou nessa província as vidas de combatentes de ambos os grupos extremistas.

Um grupo paquistanês chamado Tehrik-i-Taliban Pakistan (“Movimento Talibã do Paquistão”), também chamado de Talibã paquistanês, é uma organização formada em 2007 pela reunião de diversos grupos sunitas radicais paquistaneses que atuam na fronteira entre Paquistão e Afeganistão. Ele não é parte do Talibã afegão, embora também defenda o extremismo islâmico e, como sua contraparte afegã, seja formado principalmente por membros do grupo étnico pachto.

O grupo deseja impor a xaria no Paquistão, opõe-se à educação de estilo ocidental e ao trabalho feminino, conduz uma insurgência contra o governo paquistanês, opõe-se à presença americana na região e ataca interesses estrangeiros no Paquistão.

Uma das ações mais famosas do Movimento Talibã do Paquistão aconteceu em outubro de 2012, quando ele cometeu um atentado contra a adolescente paquistanesa Malala Youfafzai, que na época tinha 15 anos de idade e fazia ativismo pelos direitos humanos, especialmente pelos direitos das mulheres.

Ela ficou em estado grave no Instituto de Cardiologia Rawalpindi, mas melhorou o bastante para ser enviada para o Hospital Rainha Elisabeth no Reino Unido, onde se recuperou. Em 2014, tornou-se, aos 17 anos de idade, a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz. Em agosto de 2017, ela foi aceita pela Universidade de Oxford. Ela continua defendendo o direito dos jovens, incluindo membros do sexo feminino, à educação.